quinta-feira, 4 de abril de 2013

CANÇÃO DO TAMOIO



I
Não chores, meu filho; 
Não chores, que a vida 
É luta renhida: 
Viver é lutar. 
A vida é combate, 
Que os fracos abate, 
Que os fortes, os bravos, 
Só pode exaltar.

II
Um dia vivemos! 
O homem que é forte 
Não teme da morte; 
Só teme fugir; 
No arco que entesa 
Tem certa uma presa, 
Quer seja tapuia, 
Condor ou tapir.

III
O forte, o cobarde 
Seus feitos inveja 
De o ver na peleja 
Garboso e feroz; 
E os tímidos velhos
Nos graves concelhos, 
Curvadas as frontes, 
Escutam-lhe a voz!

IV
Domina, se vive; 
Se morre, descansa 
Dos seus na lembrança, 
Na voz do porvir. 
Não cures da vida! 
Sê bravo, sê forte! 
Não fujas da morte, 
Que a morte há de vir!

V
E pois que és meu filho, 
Meus brios reveste; 
Tamoio nasceste, 
Valente serás. 
Sê duro guerreiro, 
Robusto, fragueiro, 
Brasão dos tamoios 
Na guerra e na paz.

VI
Teu grito de guerra 
Retumbe aos ouvidos 
D’imigos transidos 
Por vil comoção; 
E tremam d’ouvi-lo 
Peor que o sibilo 
Das setas ligeiras, 
Peor que o trovão.

VII
E a mãe nessas tabas, 
Querendo calados 
Os filhos criados
Na lei do terror; 
Teu nome lhes diga, 
Que a gente imiga 
Talvez não escute 
Sem pranto, sem dor!

VIII
Porém se a fortuna, 
Traindo teus passos, 
Te arroja nos laços 
Do imigo falaz! 
Na última hora 
Teus feitos memora, 
Tranqüilo nos gestos, 
Impávido, audaz.

IX
E cai como o tronco 
Do raio tocado, 
Partido, rojado 
Por larga extensão; 
Assim morre o forte! 
No passo da morte 
Triunfa, conquista 
Mais alto brasão.
As armas ensaia, 
Penetra na vida: 
Pesada ou querida, 
Viver é lutar. 
Se o duro combate 
Os fracos abate, 
Aos fortes, aos bravos, 
Só pode exaltar.


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